Designer traz Flechas de Prata de volta

A Alemanha foi massacrante no automobilismo na década de 1930. No pré-guerra, os carros de Mercedes-Benz e Auto Union (que mais tarde faria parte da Audi) com suas carrocerias prateadas de 750 kg atingiam mais de 300 km/h por meio de seus motores sobrealimentados de 600 cv . Mas era uma época de pouca tecnologia de informação e quase nada foi documentado.

Para compensar essa falha, o estúdio Playground surgiu com o Silver Arrows Project, que recriou 12 corridas entre 1935 e 1939 com o uso fotos e computação gráfica. O site Car and Driver Brasil conversou com o tcheco Jan Rambousek, designer gráfico por trás da ideia para conhecer melhor o seu fantástico projeto.

C/D: Qual foi o ponto de partida para cada foto?

Tínhamos uma visão bem clara quando começamos. O projeto reflete duas corridas por ano entre 1934 e 1939. Acho que a parte mais importante foi definir quais seriam essas duas. Passamos por uma quantidade absurda de detalhes e fatos para escolher as corridas nas quais mais momentos interessantes haviam ocorrido.

C/D: No início, que tipo de material vocês tinham?

Fotos em preto e branco, filmes da época, livros do tema de todo tipo de livraria e coleções pessoais, documentos históricos, visitas a museus oficiais (de Mercedes, Audi etc), entrevistas com entusiastas, mecânicos e qualquer um que nós pudemos botar nossas mãos. E, naturalmente, todo material que conseguimos achar online. Ah, quase me esqueci dos modelos em escala.

C/D: Em que tiveram mais dificuldade? Pré-produção, sessão de fotos ou pós-produção?

Todas as fases têm os seus desafios. A grande diferença é o tempo dispensado em cada processo. Durante a pré-produção, sofremos com alguns veículos que os projetos não haviam sobrevivido ao tempo (pelo menos do que temos conhecimento). Sem falar que a maioria das pistas ou já tinham desaparecido ou mudaram bastante.

A sessão de fotos foi, provavelmente, com a qual gastamos menos tempo. Contudo, considerando que o material fotografado durante os cinco dias foi a base de todo o projeto, não poderíamos cometer nenhum erro. Trabalhamos incessantemente em cima de todos os detalhes, olhando tecnicalidades como iluminação e enquadramento, até figurino, maquiagem etc.

A pós foi o período mais longo, com dois anos e meio no total. Apesar de eu não gostar de café, o resto do pessoal adora e ele estava sempre em falta.

C/D: Você já conhecia a história das Flechas de Prata antes, certo? Como se sentiu ao trazer essa era e corridas de volta à vida?

Conhecia, sim. Nosso time inteiro ama carros e automobilismo, particularmente as Flechas de Prata. E, no final, ficamos muito felizes com o resultado. Conseguimos realizar exatamente o que queríamos. Esperamos que as pessoas possam desfrutar da história atrás de cada cenário e como tudo se desenvolve.

C/D: Como esse projeto começou?

Acho que ele nasceu pela paixão. Muita gente pergunta se o projeto foi encomendado pela Mercedes, mas não. A ideia original foi minha e de meus amigos, Tomas Kopecny e Milan Sodoma. Nós decidimos fazer uma imagem para ver se conseguiríamos criar isso. Uma imagem levou a outra e, no final, tudo explodiu para 12 cenários.

C/D: Das 12 imagens recriadas, qual é a sua favorita? E quanto à história por trás delas?

Essa não é uma pergunta justa. Eu gosto de todas elas por razões distintas. Contudo, acho que Avus e Fatherland’s Finale (confira na galeria acima) estão no topo. Como já disse, selecionamos as histórias com cuidado e poderia aqui dizer várias curiosidades sobre elas e sua produção, mas preferimos que os fãs descubram sozinhos.

Mas quando eu penso no projeto, hoje, me lembro das pessoas que encontramos durante essa jornada. Desde uma vovó de 90 anos que conhecemos na produção de fotos na República Tcheca, que tinha visto a corrida original da janela de um dos edifícios retratados e que nos deu mais informações sobre aquele dia, até um senhor inglês em Goodwood que, através de uma louca série de conexões, foi levado pela Gestapo (polícia nazista) para conhecer o time da Mercedes na Alemanha. Nosso projeto nos fez conhecer muitas pessoas interessantes.

C/D: Quais são os maiores desafios de fazer um projeto desse tamanho?

Essa é a primeira vez que um projeto desta natureza é feito em todo o mundo. E já que foi um plano financiado e motivado por nós, um grupo de entusiastas, a logística e estrutura de tempo foram um desafio imenso.

Colocar o relógio para trabalhar, eu digo. Com um projeto deste tipo, aprendemos que atuar em harmonia e em unidade foi um fator crucial para trazer à vida o que havíamos pensado.  No final, não temos vergonha de dizer que foi um trabalho de amor a essas máquinas especiais e a um período histórico único.

C/D: Como foi a reação do público?

Tem sido excelente! Ficamos muito felizes quando vimos o resultado, mas quando as pessoas elogiaram na estreia, durante o Goodwood Festival of Speed, foi sensacional. Especialmente nas exibições presenciadas por Lord March, o organizador do festival.

No nosso caso, tamanho é documento, pois há alguns detalhes que só podem ser vistos quando o pôster é bem grande. Por isso, é importante que nesses eventos eles estejam em tamanho real, com quase três metros de comprimento. Nós amamos nossos fãs e estamos muitos felizes pela resposta e apoio de todos eles.